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AS DISPOSIÇÕES ESPONTÂNEAS DAS CRIANÇAS
Essa expressão aponta basicamente para o respeito e a confiança nas DISPOSIÇÕES ESPONTÂNEAS, que estão presentes em todas as crianças. Entender essas disposições nos permite percebê-las mais facilmente e respeitá-las. Isso contribui com a parte mais desafiadora: CONFIAR nelas e em suas capacidades. Confiar é ainda mais desafiador porque muitos de nós não vivenciamos essa confiança quando éramos crianças. Então isso nos exige um certo esforço, maior ou menor a depender de cada um.
De um modo ou de outro, essa experiência nos proporciona uma abertura para novas atitudes, que beneficiam a todos. Mais do que dizer o que temos que ensinar às crianças (o que também é importante e tem o seu devido lugar), precisamos perceber o quanto podemos aprender com elas!
BRINCAR...
A ATIVIDADE MAIS NATURAL DA CRIANÇA
Essa Disposição Espontânea é facilmente observável nas crianças. Quando lhes é permitido, elas brincam e assim o fariam sem parar, se pudessem. Quantas vezes nos questionamos ao observá-las: “como podem ter tanto gás?” ou “minha nossa, como eles conseguem? não param!”. Ainda assim, na escala de valores comum, o brincar é relegado a uma atividade secundária, um passatempo. No entanto, hoje sabe-se, seguramente, que não é à toa que a natureza nos equipou com essa capacidade. Ela é a atividade mais natural da criança, mas também a mais surpreendente, perfeita e adaptada ferramenta para a aprendizagem e o desenvolvimento. Para elas, brincar e aprender além de sinônimos, são indissociáveis. Andre Stern, criador do movimento da Ecologia da Infância, diz que pedir a uma criança que pare de brincar para aprender é o mesmo que pedir a alguém que respire sem tomar ar.

A maneira como vivemos torna mais difícil permitir que a criança vivencie profundamente essa disposição para aprender. Porém, temos muitas bases para entender e acreditar que podemos tornar o mundo mais favorável e próspero para o desenvolvimento integral das crianças através do brincar genuíno. Disponibilizar um brincar livre, onde a criança explore o mundo com seus sentidos, em seu próprio ritmo e tempo, são fundamentais para o desenrolar saudável da vida interior. Já se sabe também que brincar em um ambiente natural propicia experiências multissensoriais que contribuem para a construção de habilidades cognitivas para o desenvolvimento intelectual contínuo e estimulam a imaginação. Estar mais próximo da natureza também favorece um brincar com menos interrupções, contribuindo na criação de significados e desencoraja a competição, considerada uma enorme destruidora de potenciais. Conhece-se, igualmente, o valor dos brinquedos não-estruturados: múltiplas ações e liberdade de criação.
Com toda a informação que hoje muitos de nós desfrutamos, está em nossas mãos favorecer experiências que sejam verdadeiramente nutridoras desse gigantesco potencial infantil! Um dos nossos maiores propósitos é levar essa compreensão a mais e mais pessoas.

ENTUSIASMO...
O FERTILIZANTE DA VIDA
"Alguns acreditam que só se ama aquilo que conhece.
Eu penso que na vida só se conhece aquilo que se ama"
Essa frase de Rubem Alves nos traz a ideia de que precisamos, antes de mais nada, nos encantar pelas coisas. O encantamento gera energia e movimento para conhecer, pesquisar, estudar, observar, explorar algo. Seja um assunto, uma brincadeira, um projeto, um sonho ou um amor, este especial interesse numa determinada coisa nos move internamente e nos permite adentrar novos mundos. Somos impulsionados de forma prazerosa e feliz à desbravar. Ficamos atiçados. Nos despertamos!
A criança que brinca livremente, é movida de forma natural por uma força interna que André Stern indica como uma das principais Disposições Espontâneas dos pequenos - o Entusiasmo! Tamanha é sua importância, que hoje a neurobiologia nos mostra que nosso cérebro se desenvolve de maneira mais rápida e espontânea, justamente quando existe entusiasmo. Um verdadeiro fertilizante para a vida! Ele faz com que as crianças (e nós também!) possam estar inteiras, imersas, vivendo em plenitude e adquirindo assim um conhecimento/experiência ímpar. As coisas as maravilham e elas se conectam com uma vida vibrante na medida que seguem o curso guiado por seus interesses genuínos.
A vida também pode não parecer tão boa quando não conseguimos ter tempo para nos dedicar ao que realmente nos dá prazer ou ao que realmente sentimos vontade de explorar. Por isso, é fundamental que a criança possa ser respeitada para brincar/aprender sobre as coisas que a empolgam. E que tenha espaço para acessar uma escuta interna que revela seu eu no mundo, sua singularidade, e as coisas especiais que lhe despertam para seu modo único de ser feliz!
Que tal se deixar tocar e ser contagiado pela alegria de uma criança que brinca com bolhas de sabão ou se encanta vendo um pássaro de pertinho? Quando nos maravilhamos também, encorajamos que uma potente energia cresça e crie profundas raízes na alma das crianças. Esse encantamento, segundo Louise Chawla, funciona como “joias radioativas enterradas dentro de nós, emitindo energia ao longo dos anos em nossa vida”. Uma preciosidade!
MENTE ABERTA...
A LINGUAGEM DO CORAÇÃO
Quando iniciamos a apresentar as Disposições Espontâneas, dissemos que uma das coisas mais lindas ao compreendê-las e nelas confiar, era a possibilidade de aprendermos com as crianças e gerar benefícios para todo mundo. A disposição infantil de usar a linguagem do coração é talvez a que melhor expressa esse pensamento. Sabe porque?
Esse potencial que nasce com todinhas as crianças se expressa através da capacidade de manter a mente aberta frente a tudo que se manifesta, sem intolerâncias, pré-conceitos e julgamentos baseados na cor da pele, idade, peso, raça ou sexo. A criança conhece desde cedo união, harmonia e solidariedade e isso fica muito evidente quando observamos crianças bem novinhas. No entanto, vivendo numa sociedade com valores bem diferentes desses que nascem com elas, as crianças passam a introjetá-los. Elas nos imitam desde muito pequenas e não podemos nos esquivar do fato de que somos nós a apresentar-lhes formas de relacionamento humano não respeitoso. Olhares, comentários e posturas que assumimos ensinam silenciosamente também.

Portanto, temos diante de nós duas imensas questões: em primeiro lugar, a responsabilidade que nos cabe enquanto adultos de referência; e em segundo, exercendo uma forte influência sobre o primeiro, a possibilidade de aprender com as crianças uma vida de relações verdadeiramente humanas.
Muito se ouve dizer que os filhos nos tornam pessoas melhores. Acreditamos profundamente que esse é um dos motivos!
Por isso, vale mantermos sempre viva a pergunta “o que já aprendemos hoje com as crianças”?
IR AO VASTO MUNDO...
IMPULSO NATURAL DE EXPLORAR E CONHECER
Ir ao vasto mundo é a última das quatro disposições espontâneas infantis, propostas por André Stern. Ela se refere a tendência das crianças a explorar, conhecer e ir ao encontro do mundo, das pessoas e de outros seres.
Mesmo antes do primeiro passinho, já podemos perceber nas crianças o anseio de ir em frente, de que ninguém a segure. O brilho no olhar ao ver algo novo, o impulso de alcançar e sentir o que se apresenta a ela, são momentos constantes que percebemos a todo instante ao observarmos a criança que inicia seu contato com o mundo. Logo que começa a caminhar, a possibilidade ir ao encontro das coisas e ampliar o contato com o seu redor ganha um novo grau de liberdade. Um salto importante na sua capacidade de buscar e apreender o que de fato desperta seu interesse. O próprio ato de ficar de pé, característico do homem, é uma condição para descortinar o mundo, como bem coloca Gandhy Piorski.
Nesse momento ainda inicial, já está colocada em prática a busca da criança por ser ela própria e encontrar seu papel no mundo. Ela já está tecendo seu próprio fio da vida, suas memórias. Portanto, temos diante de nós duas imensas questões: em primeiro lugar, a responsabilidade que nos cabe enquanto adultos de referência; e em segundo, exercendo uma forte influência sobre o primeiro, a possibilidade de aprender com as crianças uma vida de relações verdadeiramente humanas.
Muito se ouve dizer que os filhos nos tornam pessoas melhores. Acreditamos profundamente que esse é um dos motivos!
